17:10

O USO DA INTERNET NA EDUCAÇÃO




         Quadro-negro, giz, apagador – o que esses objetos tem em comum? Foram por muitos anos ferramentas importantes dentro do espaço educativo no processo de ensino-aprendizagem.

          Hoje, porém, atendendo as mudanças da nova clientela que temos em nossas salas de aula é preciso buscar novas ferramentas a fim de dinamizar nosso fazer pedagógico.

         O computador e o uso da internet por meio deste é sem sombra de dúvidas uma ferramenta importantíssima para que isso ocorra. Não há limites para o que possamos buscar em um simples clique no mouse do computador.

         Informações importantes e curiosidades diversas a cerca de conteúdos de História, Geografia, Língua Portuguesa, Matemática e tantas outras disciplinas contidas na internet despertam no alunado o prazer da pesquisa e da descoberta. Despertam o prazer de partilhar essas descobertas com os colegas e professores.

        Para estimular essa busca autônoma do conhecimento por parte do seu alunado é preciso que o professor abandone a postura de detentor do saber e mostre a este que também aprende com ele. Içami Tiba em seu livro Ensinar Aprendendo destaca que ao assumir a postura de aprendiz o professor tende a ganhar o respeito e consideração de seu aluno.

       O grande ganho disso é a participação ativa dos alunos em seu processo educativo, é ajudá-los a conhecer seus limites e transpô-los. É ajudá-los a filtrar o que lêem tornado-os sujeitos críticos que transformam os informações obtidas em conhecimento próprio.

17:05

O RETRATO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA


        
           Sou da época em que ao tirar uma foto e revelá-la você recebia junto com a revelação o negativo da foto. Que na fala do leigo nada mais é do que a foto de maneira distorcida.

          A educação brasileira tem sido mostrada sob uma óptica negativa (entenda-se negativa nesse contexto em alusão ao que foi considerado no parágrafo anterior). A foto está lá como deveria ser, no entanto, se não revelá-la as distorções não permitem que ninguém seja identificado nela.

           Para falar da educação brasileira é preciso remeter a nossa mente a imagem daqueles que são seus principais representantes, a saber, professores e alunos que vivem um eterno combate de ideais e pensamentos.

          Professores reclamam do desinteresse de seu alunado, da desvalorização profissional e da falta de assistência em sua formação continuada. Os alunos por sua vez insistem em dizer que não são compreendidos por seus professores e que o autoritarismo de muitos desses é um grande empecilho para manterem boas relações.

          Quem é o vilão ou o mocinho nessa história? Ora! Não há vilões nem mocinhos. Há sim, sujeitos pertencentes a “tempos geracionais” diferentes - já diria Miguel Arroyo em seu texto A infância interroga a pedagogia. Sujeitos que precisam estender um ao outro um olhar e uma escuta diferenciada para que os nós que atam a educação em nosso país sejam desatados. E, quando se fala em ‘nós”, quero tão somente me referir as relações estabelecidas dentro do ambiente escolar cujo bom andamento ajuda a vencer as maiores barreiras que uma escola possa enfrentar, seja relacionada a sua estrutura física e aos parcos recursos advindos do governo (como é o caso de muitas escolas públicas) seja pela comercialização que virou a educação nas redes privadas de ensino.

          Embora a sociedade insista em ver a foto de nossa educação através de seu negativo (incluindo os próprios professores e alunos) é preciso entrar no quartinho escuro cercado de lâmpadas vermelhas para perceber que a foto não é e nem está distorcida. É preciso ver que os problemas embora sejam muitos não estão além de solução e que somente de “mãos dadas” como diria Drummond seremos capazes de expor as cores e a beleza dos que estão nesse retrato.

19:01

MANDA QUEM PODE. OBEDECE QUEM É...CONIVENTE

Desabafos e mais desabafos...
          Não sou iludida. Já passei dessa fase à muito. Mas as vezes me sinto inocente e me pego acreditando que as mudanças quando vem podem trazer melhorias para os menos afortunados. E, por conta disso sempre dou, como diz o dito popular, com “os burros n’água’. Essa fraqueza (ou será qualidade?!) é fruto da convivência com os pequeninos que mesmo estando tudo as avessas insistem em sorrir e andar saltitando como se o mundo em que vivem fosse perfeito.

         Assim também são os alunos do CMEI Vulpiano Cavalcanti em que trabalho. Ainda que presentes em um ambiente cuja estrutura física é vergonhosa, perigosa e desumana entram na escola com um brilho nos olhos que poderia iluminar o mundo. Não percebem que o esgoto a céu aberto dentro daquele espaço sagrado que é a escola não deveria estar ali. Não veem perigo em dormir num espaço onde uma rachadura é um mero desenho na parede e a infiltração que atinge o sistema elétrico de sua salinha de aula nada significa. Insistem em andar descalços no mesmo lugar em que ratos fazem suas necessidades físicas e, brincar próximos de um sumidouro que vez por outra brinca de engolir gente. Não, eles não veem nada disso. Tanto que se perguntar a cada um deles: “Ei criança linda, você gosta da sua escola?” A resposta seria afirmativa. Porém, como não sou criança meus olhos não conseguem enxergar nada além dessa realidade caótica que me cerca.

        A Secretaria de Educação implantou a “força tarefa” cujo objetivo é fazer reparos nas escolas que necessitam de seus serviços. Pois não é que esta força tarefa apareceu lá na escola? Pensei: “Que coisa boa! Funciona mesmo!”. Lêdo engano! Apareceram para fazer um par de reparos que serviriam tão somente para dizer que ela é atuante. Esses reparos intencionados NADA significavam diante dos enormes problemas que nos cercam (uma mera maquiagem diante de um rosto enrugado). Por conta disso rejeitamos sua presença na escola. Nosso lema era: Ou tudo, ou nada. E aí vem a surpresa: uma ordem simples e direta chegou na escola: “Aceitam esses pequenos reparos para que as aulas voltem a funcionar” e ponto final. Final mesmo. Nada de reticências, vírgulas ou ponto contínuo. Atrevo-me diante disso a mudar o dito popular: Manda quem pode, obedece quem é conivente.

         Não, não serei conivente com essa situação. Às favas essa politicagem imunda! Não quero merchã em cima dos pequeninos para que possam aparecer nas propagadas com o bigode sujo de leite ou a boca cheia de cuscuz. Quero respeito, quero consideração, quero o prédio novo cujo investimento de um pouco mais de um milhão de reais não foi suficiente para completá-lo. Enquanto as crianças “tão amadas” pela prefeitura são atendidas em uma estrutura física que lhes tira o direito de usufruir uma Educação Infantil de qualidade.

         Informo aos representantes da engenharia da prefeitura municipal do Natal que houve muitas desistências em nossas matriculas. Se desejarem podem levar seus filhos, netos ou sobrinhos para esse espaço que está em sua avaliação em condições de receber as crianças “sem problema algum”. Só nãos os esperarei de braços abertos porque preciso estar com eles sobre minha cabeça pois não sei o exato momento em que um pedaço do teto pode cair sobre ela.

         Com nome e sobrenome e feliz pela liberdade de expressão que ainda domina em nosso país.

         Cyntia Menezes.

09:03

PARÁBOLA DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

            O dono de um talho foi surpreendido pela entrada de um cão na loja. Ele enxotou-o, mas o cão voltou logo de seguida. Ele tentou novamente espantá-lo, mas reparou que o cão trazia um bilhete na boca. Pegou no bilhete e leu-0:- Pode mandar-me 12 salsichas e uma perna de carneiro, por favor?O cão trazia também dinheiro na boca. Uma nota de 50 euros. Ele pegou no dinheiro, pôs as salsichas e a perna de carneiro num saco e colocou-o na boca do cão. Este começou a descer a rua e quando chegou ao cruzamento depositou o saco no chão, pulou e carregou no botão para o sinal ficar verde.O talhante ficou realmente impressionado. Como já estava na hora, decidiu fechar a loja e seguir o cão.Atravessou a rua e caminhou até à paragem de autocarro, sempre com o talhante a segui-lo. Esperou pacientemente com o saco na boca que o sinal fechasse e pudesse atravessar. Na paragem, o cão olhou para o painel dos horários e sentou-se no banco e esperou pelo autocarro. Quando um autocarro chegou, o cão foi até à frente para conferir o número e voltou para o seu lugar. Outro autocarro chegou e ele tornou a olhar, viu que aquele era o número certo e entrou.O talhante, boquiaberto, seguiu o cão. Mais adiante o cão levantou-se, ficou em pé nas duas patas traseiras e carregou no botão para mandar parar o autocarro. Tudo isso com as compras ainda na boca. O talhante e o cão foram caminhando pela rua, até que o cão parou à porta de uma casa e pôs as compras no passeio. Então virou-se um pouco, correu e atirou-se contra a porta. Tornou a fazer o mesmo, mas ninguém respondeu. Então contornou a casa, pulou um muro baixo, foi até a janela e começou a bater com a cabeça no vidro várias vezes. Caminhou de volta para a porta e, de repente, um tipo enorme abriu a porta e começou a espancar o bicho.O talhante correu até ao homem e impediu-o dizendo: "Deus do céu homem, o que é que você está a fazer? O seu cão é um génio!"O homem respondeu: "Um génio??? Esta já é a segunda vez, esta semana, que este cão estúpido se esquece da chave!".

Moral da história: Podes continuar a exceder as expectativas, mas... a tua avaliação depende sempre da competência de quem avalia.


08:58

A VOLTA DO VELHO PROFESSOR

Será que Hamilton Werneck está certo ao afirmar que tudo muda nessa vida menos a educação?  

          Em pleno século XXI, um grande professor do século passado voltou à Terra e, chegando à sua cidade, ficou abismado com o que viu: as casas altíssimas, as ruas pretas, passando uma sobre as outras, com uma infinidade de máquinas andando em alta velocidade; o povo falava muitas palavras que o professor não conhecia (poluição, avião, rádio, metrô, televisão...); os cabelos de umas pessoas pareciam com os do tempo das cavernas... e as roupas deixavam o professor ruborizado.

         Muito surpreso e preocupado com a mudança, o professor visitou a cidade inteira e cada vez compreendia menos o que estava acontecendo. Na igreja, levou um susto com o padre que não mais rezava em latim, com o órgão mudo e um grupo de cabeludos tocando música estranha. Visitando algumas famílias, espantou-se com o ritual depois do jantar: todos se reuniam durante horas para adorar um aparelho que mostrava imagens e emitia sons. O professor ficou impressionado com a capacidade de concentração de todos: ninguém falava uma palavra diante do aparelho.

        Cada vez mais desanimado, foi visitar a escola e, finalmente, sentiu um grande alívio, reencontrando a paz. Ali, tudo continuava da mesma forma como ele havia deixado: as carteiras uma atrás da outra, o professor falando, falando ... e os alunos escutando, escutando ...



(in Raízes e Asas, CENPEC)

19:55

A PRÁTICA DO CUIDAR NOS CMEIS DO RIO GRANDE DO NORTE - MARCAS DE UM ASSISTENCIALISMO QUE DETURPA A AÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho apresentado no II Congresso Internacional de Educação Infantil



            Dar banho, trocar fraldas, medicar, limpar a cabeça infestada de parasitas - o que tudo isso tem haver com o fazer pedagógico? A maioria das pessoas atentas a essa questão haveria de responder de maneira razoável: nada. Porém, a ação docente em muitos CMEIs localizados na cidade do Natal/RN tem se resumido tão somente a um dos pilares do trinômio educar-cuidar-brincar sobre a qual a Educação Infantil está sustentada. O cuidar, na Educação Infantil desta capital, salvo raríssimas exceções, ainda tem uma visão um tanto assistencialista, o que por sua vez, tem gerado desconforto em muitos educadores infantis quanto a sua função dentro dos CMEIs.

           Numa pesquisa realizada com alguns destes educadores percebeu-se que esse desconforto tem mexido com sua auto-estima, um fator de séria preocupação, haja vista que o educador com a auto-estima baixa tende a mostrar uma atitude negativa diante de seu fazer. Simka5 (2002) lembra que ―o professor com auto-estima elevada reconhece nos outros e nele mesmo os instrumentos para a evolução‖.

           Como pode o educador infantil perceber-se como instrumento de evolução quando nitidamente se encontra preso a uma prática que já deveria ter sido abandonada? As escolas que priorizam o atendimento das crianças de 0 a 6 anos continuam sendo vistas, nas comunidades onde estão localizadas, como um mero depósito de crianças e os profissionais que nela trabalham continuam sendo vistos como meros guardiões de crianças. Tal pensamento nada tem haver com evolução e sim, com regressão. Regressão não somente no que tange as mudanças significativas pelas quais a dinâmica na Educação Infantil passou ao longo dos anos, quanto da importância da figura do educador infantil e de sua preparação acadêmica para atuar dentro daquele espaço.

          Heidrich6 (2010), após um levantamento histórico da educação Infantil, lembra que somente a partir de 1988:

          A Educação na creche e na pré-escola passou a ser vista como um direito da criança, facultativo à família, e não como direito apenas da mãe trabalhadora. Com isso, os profissionais de Educação Infantil ganharam mais legitimidade e a Educação Infantil passou a ser objeto de planejamento, legislação e de políticas sociais e educacionais,

         Na visão do autor a partir do momento em que a Educação Infantil passou a gozar do status de uma instituição de ensino, automaticamente a visão dos educadores infantis passou por uma mudança. Ganharam ―legitimidade‖, ou seja, sua prática pedagógica passou a ter o sentido apropriado do profissional de educação.

         Mais de vinte anos se passaram desde que essa declaração foi feita, no entanto, a legitimidade do educador infantil continua sendo alvo de sérias discussões. É como diz o dito popular: ―Muda-se a letra, mas canção permanece a mesma‖.

         Logo, é preciso ter em mente qual real sentido deve ser atribuído ao cuidar dentro dos CMEIs do Rio Grande do Norte para que o educador infantil não venha a se sentir desvalorizado vendo toda sua preparação acadêmica relegada tarefas simplórias.
         Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil deixam claro o sentido que deve ser atribuído ao cuidar na Educação Infantil:

         A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos específicos. (BRASIL, 1998)

        Ver o cuidar dentro dos CMEIs voltado somente para seu aspecto físico é ter uma visão míope da atuação pedagógica. É dar ao educador que neste ambiente trabalha um ofício para qual não foi diretamente preparado afinal de contas nos bancos universitários não se ensina a catar piolhos, cuidar de feridas, dar banho entre outros aspectos relacionados ao cuidado e higienização do corpo. Essas são marcas sociais adquiridas naturalmente no seio familiar e estendidas no espaço escolar, mas não é função específica do educador infantil administrá-las.

        Apropriadamente Macêdo7 (2001) destaca:

A prática de cuidado tem duplo sentido, um no campo da ação do pensamento, reflexão, e outro no campo da aplicação do espírito, materializando-se em atitudes para com o outro (...) posso ressaltar que a ação de cuidar abrange aspectos cognitivos e afetivos.

        O aspecto físico naturalmente está explícito na ação do cuidar na Educação Infantil, tendo em vista a idade das crianças atendidas dentro dos CMEIs. Porém, o que se buscou ressaltar nessa proposta de trabalho é o fato de que esse cuidar deve priorizar de maneira muito mais explícita os aspectos cognitivos e afetivos que contribuirão de maneira avassaladora para a formação do sujeito social. E isso só poderá ser feito se os educadores infantis tiveram tempo e oportunidade para analisar as teorias de desenvolvimento da aprendizagem à luz da leitura feita da realidade de suas salas de aula e não envoltos em trocas de fraldas e coisas afins.
        As educadoras observadas nessa pesquisa se esforçam em manterem-se atualizadas fazendo cursos de formação continuada e pós-graduação, mas se perguntam muitas vezes quase como um desabafo, de que lhe servem todas as suas novas leituras se a realidade que se lhes apresenta as torna meras babás de crianças. Algumas destas vislumbram a possibilidade de sair da Educação Infantil e quando o fazem analisam essa saída como um processo de crescimento dentro de sua carreira como profissional de educação. Mesmo sem perceber avaliam seu fazer pedagógico como menos importante do que aquele realizado nas escolas de Ensino Médio e nas Universidades. Essa desvalorização é fruto das atribuições que lhes são dadas dentro dos CMEIs cuja rotina privilegia muito mais o cuidar do que o educar. Atuar em outro campo que não seja a Educação Infantil na verdade não é sinônimo de progresso e sim de descrédito para com a sua prática pedagógica.

        Dessa forma faz-se necessário ter um segundo olhar para que esses profissionais preparados e habilitados possam continuar a atuar na Educação Infantil, enriquecendo cada vez mais seu fazer pedagógico, contribuindo significativamente para uma educação na infância de qualidade e não mero assistencialismo que angaria votos e tira dos pais a responsabilidade que lhe cabe de cuidar de seus filhos, tendo como um apoio para isso a figura do educador infantil.

20:26

UM NOME PARA UMA ESCOLA

Uma homenagem à`professora Fernanda Jalles


Que valor tem um artista em vida? Nenhum! Sua morte infelizmente lhe é muito mais rentável que seu viver.
Fernanda Jalles foi uma artista importante no cenário da Educação Infantil e em virtude disso tenho certeza que um dia será homenageada com uma escola de Educação Infantil que levará seu nome. Uma justa homenagem, diga-se de passagem. Porém, a meu ver, esta honra deveria ter sido em vida. Não que eu ache que isso lhe seria importante pois nos congressos e formações em que participei a estrela deixava sua luz brilhar mas, nunca sozinha, pois sempre chamava outras estrelas para brilharem junto consigo.
Quem tanto leu, pesquisou e atuou de maneira significativa na melhoria do que se oferta em sentido escolar aos pequeninos merece sim uma escola que carregue seu pesado nome. Merece ser lembrada ontem, hoje, amanhã e sempre.
Termino essa postagem com um pequeno trecho da carta publicada na página da UFRN a cerca da figura dessa grande educadora: 
Como mais importante, no entanto, ressalto que todas essas participações de Fernanda levaram a marca registrada do compromisso, responsabilidade, competência e dedicação, qualidades associadas à alegria, ao desprendimento, à solidariedade e à amizade que sempre demonstrava com todos que interagia e, em especial, com as crianças desse país, pelas quais lutou com afinco, por seu direito inalienável à educação. A saudade nos acompanhará a todos os seus amigos e a muitos que tiveram sorte de conviver com ela. Nesse momento, só nos resta dizer-lhe obrigada.

19:01

COMO SE CONQUISTA UM ELEITOR

       

 Um desabafo antigo postado tardiamente. Porém, como diz o dito popular: "Antes tarde do que nunca"! Minha voz grita através de minhas mãos...



          Peço uma licença poética a saudosa (e mais brasileira do que muitos de nós), Clarice Lispector para iniciar esse artigo com suas palavras publicadas no Jornal do Brasil em 22 de junho de 1968. Dizia ela: “Não sei mais escrever, porém, o fato literário tornou-se aos poucos tão desimportante para mim que não saber escrever talvez seja exatamente o que me salvará da literatura. O que é que se tornou importante para mim? No entanto, o que quer que seja, é através de literatura que poderá talvez se manifestar”.

           Deveras posso não saber escrever, mas posso sentir e é esse sentir que guia meus dedos não mais nas linhas frias de um caderno (como fazia enquanto criança) ou nos toques sofridos de uma charmosa máquina de escrever, mas guia-os nas teclas gélidas dessa maldita e tão necessária máquina chamada computador.

           Hoje vi uma cena paradoxalmente comovente e amoral.

           A entrega do material escolar para as crianças matriculadas no município de Natal foi “o” evento do ano. Nunca se viu tanta generosidade: um kit recheado com o que aquelas crianças nunca sonhariam em comprar, pois muitas delas não tem sequer meros trinta centavos para comprar um lápis! Há muitas que não tem nem o que comer!

           Ver seus olhos brilhantes diante de tanta abastança: cinco lápis, seis canetas, seis borrachas, caderno, réguas diversas, fichário, colas, tintas, massinhas entre tantas outras coisas foi deveras comovente acredito que nem papai Noel vestido de verde e amarelo, cantando “Aquarela do Brasil”, por ser fã número 1 de Ary Barroso, teria sido tão generoso!

           O que me deixou enojada foi ver os responsáveis por essas crianças darem glória à Deus no céu e a nossa “esforçada” prefeita pelo regalo ofertado. Rendidos e vendidos por esse assistencialismo barato, ilusório e imediatista. Estavam todos já falando em reeleição sem ao menos se importar de que seus filhos não sabem ler.

           De que lhe serve um caderno novo se este será usado tão somente para copiar as tarefas redigidas nas aulas de cuspe e giz que os educadores darão? Tarefas que não fazem nenhum sentido para seu viver, que não lhes permitirão alcançar a tão sonhada consciência crítica de cidadão (baboseiras discursadas pelos educadores e que juram ser o objetivo principal da escola).

          De que lhe serve um fichário sem folhas e que permanecerá dessa maneira aja visto a carência de recursos financeiros da grande maioria?

          O que farão com tantos lápis e canetas se estes não podem arrancar as folhas dessa vida marcada pela exclusão social e escrever uma história nova para si e sua família?

         Pois esses mesmos pais elegem a escola, com resultados totalmente improdutivos, pelo segundo ano consecutivo como a melhor escola do bairro. Não quero por meus pés nas demais. Nunca! Penso que meu viver compromissado com a educação seria sofrível.

         Educação? Quem está pensando nisso? Não posso ser injusta, os pais pensam sim na educação de seus filhos, porém, a veem como fonte de renda (pouca é verdade) mais continua. Os políticos, por sua vez, a veem como um investimento no eleitorado miserável, pois sabem bem o que diz a sabedoria popular: “quem a boca do meu filho beija, a minha adoça”.

         Eu, ilhada nessas palavras que estou a redigir, ainda vejo a educação como sinônimo de liberdade. E essa liberdade brindo com as palavras de Paulo Freire: “Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina”.

Cyntia Menezes

17:06

CAMPANHA DO RETROPROJETOR

Sabe aquelas velhas campanhas do tipo "vamos ajudar aos necessitados?" , bem, muitas vezes tenho desejo em participar mas fico cheia de receios pois não sei se a doação feita será revertida para a causa que está sendo abraçada. De repente, não mais que de repente abro meu email e vejo a carta que segue abaixo escrita por uma professora nota 10. Nota 10 não nota 1000! Ou será melhor falar 10.000? Bem acho que não tenho zeros suficientes à direita para para dar-lhe o devido valor. Seu pedido pode causar desconfiança em alguns que não a conhecem, que não sabem o lindo trabalho realiza na educação infantil e quão felizes as crianças são em sua sala de aula. Penso que essa felicidade é fruto de se sentirem amadas e bem cuidadas (ainda que a professora lhes chame a atenção). Ela fala no email que não deseja enricar (sei disso e por isso dispenso esse comentário). Porém, acredito que enriquecerá ainda mais as aulas maravilhosas que dá. Tomara que consiga logo atingir seu objetivo e tenho certeza que qualquer excedente (se houver) será revertido para o CMEI em que trabalha.  É isso aí minha amiga alguém tem que olhar para os CMEIs já que os responsáveis por ele não o fazem.


Caros Amigos,
             Quem trabalha na educação, em especial, na educação de nosso município, sabe que para desenvolver um bom trabalho junto aos alunos, é preciso fazer mágica com o nosso salário para pagar as dívidas (que não são poucas) e, ainda, fazer sobrar mensalmente, pouco mais de R$ 50,00 reais para investir na nossa prática.

             Esse dinheiro que deveria ser usado em nossos momentos de lazer em família, acaba sendo revertido na compra de folhas de papel sulfite (para reproduzir as atividades e/ou provas dos alunos), na recarrega dos cartuchos de nossa impressora de uso pessoal (que acaba sendo o instrumento indispensável em nosso trabalho escolar), para comprarmos o giz para a lousa ou caneta para o quadro branco (já que muitas vezes esses acabam sendo o único recurso didático de que dispomos) e que quando vamos solicitar aos nossos coordenadores a sua reposição, tristemente eles nos dizem que não tem.

Diante de tanta dificuldade, muita gente já deve ter me visto em algum evento ou festa de familiares juntando bandejinhas e pratos descartáveis ou recolhendo garrafinhas e tampas de refrigerante na praia enquanto caminho em meus momentos de lazer, só para poder proporcionar aos meus alunos um dia de prazer, ao confeccionarmos brinquedos com essas sucatas e ao fim da confecção eles poderem levar para casa, já que se trata de crianças carentes da periferia do bairro de Felipe Camarão, bairro esse que a família pouco tem a oferecê-los. Até hoje, não tive vergonha de agir assim.

Mas, tem coisas que precisamos e que infelizmente não podemos achar gratuitamente e de forma tão abundante no “lixo”. Principalmente, quando somos professoras polivalente, porque temos que arcar também com os materiais de artes como: pincéis, canetas hidrocor, colas coloridas, cartolinas e EVAs, necessárias para desenvolvermos as diferentes habilidades dos alunos. Aí, nesse caso, temos que mais uma vez, abrir o bolso e comprar mesmo. Indo contra os princípios de muitos de nossos colegas de trabalho e por causa disso, eu e as pessoas que agem assim, compram brigas nas escolas onde trabalhamos.

Se isso é certo ou errado, não sei dizer. Mas também não quero julgar aqueles que não pensam assim. Só não tomei a decisão de ser educadora para fingir que ensino. Até porque não consigo se quer pensar em realizar algo para os meus alunos e não ter condições para isso. Me sinto mal no dia que planejo algo e não consigo executar.

Que já teve a oportunidade de trabalhar comigo ou conhece o meu trabalho, sabe que eu gosto de ambientalizar minha sala com um toque especial. Não faço isso para ser melhor ou pior que as minhas colegas de trabalho, mas para que as crianças que nela vá estudar, ao chegarem, se encantem com o que vê e queiram ficar lá, o tempo que a aula dure sem choros e/ou sofrimentos.

Mas como não sei ampliar os desenhos que escolho, conto ou melhor contava, nas escolas por onde trabalhei, com a ajuda de um retroprojetor (desse que segue em anexo) para isso. Infelizmente, esse ano fui transferida para um CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) igual a muitos existente em nossa cidade, pobre em materiais didáticos e pedagógicos. E recursos áudio-visuais... O que é isso? De recurso lá só tem uma televisão velha.

Apesar de tudo isso, quero continuar fazendo o melhor para a minha turma e ajudar as minhas colegas de trabalho e pensando nisso, resolve fazer uma campanha a fim de levantar fundos para que eu possa adquirir para uso próprio, mas em prol do meu trabalho e daqueles que dele necessitar, um simples retroprojetor.

Para tanto conto com sua ajuda e colaboração doando o valor que você puder e ainda pedindo a ajuda de seus parentes e/ou amigos mais afortunados. Basta você enviar esse e-mail para eles e pedir para eles depositarem a quantia na agência: 3525-4, conta: 27.504-2, em meu nome FRANCISCA LIÉRGIA LIMA DA SILVA.

Para os que ajudarem estarei diariamente enviando a vocês uma prestação de contas e tão logo eu consiga a quantia necessária e que segue em anexo aviso a todos para que se encerrem as doações.

Eu e todos os meus alunos de hoje, amanhã e sempre agradecemos sua colaboração.