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MANDA QUEM PODE. OBEDECE QUEM É...CONIVENTE

Desabafos e mais desabafos...
          Não sou iludida. Já passei dessa fase à muito. Mas as vezes me sinto inocente e me pego acreditando que as mudanças quando vem podem trazer melhorias para os menos afortunados. E, por conta disso sempre dou, como diz o dito popular, com “os burros n’água’. Essa fraqueza (ou será qualidade?!) é fruto da convivência com os pequeninos que mesmo estando tudo as avessas insistem em sorrir e andar saltitando como se o mundo em que vivem fosse perfeito.

         Assim também são os alunos do CMEI Vulpiano Cavalcanti em que trabalho. Ainda que presentes em um ambiente cuja estrutura física é vergonhosa, perigosa e desumana entram na escola com um brilho nos olhos que poderia iluminar o mundo. Não percebem que o esgoto a céu aberto dentro daquele espaço sagrado que é a escola não deveria estar ali. Não veem perigo em dormir num espaço onde uma rachadura é um mero desenho na parede e a infiltração que atinge o sistema elétrico de sua salinha de aula nada significa. Insistem em andar descalços no mesmo lugar em que ratos fazem suas necessidades físicas e, brincar próximos de um sumidouro que vez por outra brinca de engolir gente. Não, eles não veem nada disso. Tanto que se perguntar a cada um deles: “Ei criança linda, você gosta da sua escola?” A resposta seria afirmativa. Porém, como não sou criança meus olhos não conseguem enxergar nada além dessa realidade caótica que me cerca.

        A Secretaria de Educação implantou a “força tarefa” cujo objetivo é fazer reparos nas escolas que necessitam de seus serviços. Pois não é que esta força tarefa apareceu lá na escola? Pensei: “Que coisa boa! Funciona mesmo!”. Lêdo engano! Apareceram para fazer um par de reparos que serviriam tão somente para dizer que ela é atuante. Esses reparos intencionados NADA significavam diante dos enormes problemas que nos cercam (uma mera maquiagem diante de um rosto enrugado). Por conta disso rejeitamos sua presença na escola. Nosso lema era: Ou tudo, ou nada. E aí vem a surpresa: uma ordem simples e direta chegou na escola: “Aceitam esses pequenos reparos para que as aulas voltem a funcionar” e ponto final. Final mesmo. Nada de reticências, vírgulas ou ponto contínuo. Atrevo-me diante disso a mudar o dito popular: Manda quem pode, obedece quem é conivente.

         Não, não serei conivente com essa situação. Às favas essa politicagem imunda! Não quero merchã em cima dos pequeninos para que possam aparecer nas propagadas com o bigode sujo de leite ou a boca cheia de cuscuz. Quero respeito, quero consideração, quero o prédio novo cujo investimento de um pouco mais de um milhão de reais não foi suficiente para completá-lo. Enquanto as crianças “tão amadas” pela prefeitura são atendidas em uma estrutura física que lhes tira o direito de usufruir uma Educação Infantil de qualidade.

         Informo aos representantes da engenharia da prefeitura municipal do Natal que houve muitas desistências em nossas matriculas. Se desejarem podem levar seus filhos, netos ou sobrinhos para esse espaço que está em sua avaliação em condições de receber as crianças “sem problema algum”. Só nãos os esperarei de braços abertos porque preciso estar com eles sobre minha cabeça pois não sei o exato momento em que um pedaço do teto pode cair sobre ela.

         Com nome e sobrenome e feliz pela liberdade de expressão que ainda domina em nosso país.

         Cyntia Menezes.

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