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CULTO A ANORMALIDADE

Estando em uma fase condoreirista redigí as palavras que seguem...


Nosso maravilhoso poeta José Paulo Paes escreveu um poema intitulado “Ficção Científica”. Usando o atrativo jogo de rimas nos versos que o compõe ele fala sobre um planeta onde tudo era ao contrário: o seu ouro era de graça, o lixo custava caro, o muito era nada e o tudo muito pouco.
Às vezes me vejo dentro deste planeta meio ao contrário, chamado educação pública, e juro que me sinto muito mais perdida dentro dele do que o próprio astronauta do poema citado a pouco que aterrissou nesse planeta meio às avessas. Analise a situação que segue e veja se o mesmo não aconteceria com você.
Pais que tem filhos matriculados em escolas da rede privada de ensino sentem total segurança em deixar seus filhos nas mesmas, sabendo que o expediente dos educadores contratados pela instituição de ensino será o habitual. Em nenhum momento estes se darão ao trabalho de perguntar se o horário da aula será normal porque fazer tal questionamento seria ilógico. Porém a situação muda completamente de figura quando se fala de educação pública.
“É normal?”.
Esta é a pergunta mais comum feita nas escolas municipais do nosso estado cada vez que uma criança é levada à escola. Quem nunca a ouviu ou é surdo ou estava distraído por demais no momento em que esta foi feita.
Tantas são as vezes que os educadores a ouvem, que estes passaram até fazer piadinha em torno da mesma. Cada vez que um pai, uma mãe ou qualquer outro responsável pergunta se a aula é normal estes, em alusão ao parto normal, respondem de modo inaudível:
“Não, é cesariana”.
Hilário não? Não! Hilário é o fato dos educadores se indignarem com esta pergunta, a final de contas esse é o legado que eles próprios deixaram para nossas escolas. Falta-lhes uma atitude empática. Se estes mesmos educadores parassem para analisar tanto as suas ações quanto a dos seus colegas entenderiam que este questionamento é o mínimo que os pais podem fazer.
O culto à anormalidade nas escolas públicas de nosso Estado tem como principais protagonistas a sua classe docente. São eles que fazem com que o normal se torne anormal e vice-versa. Pare um pouco e analise com cuidado os questionamentos que seguem:
É normal um educador sair de sala de aula para ver parto de sua cadelinha poodle que lhe é tão querida como a um filho?
É normal um educador pedir um mês de licença para cuidar de um filho que não está doente?
É normal marcar consultas seguidas para ir ao dentista no horário de seu expediente?
É normal um educador se ausentar todas as sextas-feiras de sala de aula e ainda assim assinar o ponto e ganhar por este dia?
É normal um educador retirar-se de sala de aula para assistir um programa de tv qualquer ou simplesmente botar a conversa em dia com seu colega, enquanto seus alunos ficam sós em sala de aula ocupados em copiar uma gama de atividades registradas no quadro negro a fim de ocupar o tempo?
É normal um educador sentir-se perdido antes de terminar o primeiro semestre e lavar suas mãos como Pôncio Pilatos, ausentando-se de sua responsabilidade em favor de seus alunos?
Se a sua resposta a qualquer uma dessas perguntas for afirmativa, parabéns, você acaba de ganhar uma passagem só de ida para esse planeta meio ao contrário. Você a merece uma vez que considera o muito como nada.
A renomada autora de nossa literatura infanto-juvenil, Ruth Rocha deixou registrada em uma de suas obras, palavras importantes que nós os adultos não devemos desperceber:
“As coisas que a gente fala saem da boca da gente e vão voando, voando, correndo sempre pra frente. Entrando pelos ouvidos de quem estiver presente. Quando a pessoa presente é pessoa distraída não presta muita atenção. Então as palavras entram e saem pelo outro lado sem fazer complicação. Mas às vezes as palavras vão entrando nas cabeças, vão dando voltas e voltas, fazendo reviravoltas e vão dando piruetas”.
A educação é um bem que a todos pertence, logo, o que for dito a seu respeito não pode e nem deve ser desconsiderado por você, como se tudo o que fosse exposto entrasse por um ouvido e saísse pelo outro.
O que tem acontecido na educação norte-riograndense é um assustador culto à anormalidade. Sua força é tamanha que parece que estamos sendo conduzidos a mais um “Jonestown”. Não podemos fazer parte disso. Não podemos permitir o suicídio coletivo de mentes ansiosas por aprender.
Aceitar tal situação é receber um atestado de insanidade; e só a título de informação, não há mais vagas disponíveis no João Machado.

Cyntia Menezes

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